Estudos Bíblicos 

Este espaço foi criado para o estudo das Palavras desta Vida. Existem muitas formas de estudarmos a Palavra de Deus, aqui nós apresentaremos estudos bíblicos inteiros sobre alguns temas, estudos indutivos e também mensagens expositivas de passagens selecionadas. Tentaremos também disponibilizar aos irmãos artigos que auxiliam no estudo pessoal da Bíblia e no preparo de sermões expositivos. Os estudos bíblicos em vídeo estarão na páginas de vídeos. 


Alegria

Vocabulário

Há um grande número de palavras hebraicas para alegria, e isso aponta para o caráter exuberante da vida pessoal e religiosa de Israel (cf. Sf 3.14,17, em que se empregam oito palavras diferentes para alegria e regozijo). A raiz hebraica básica e mais comum é samh, que descreve não apenas o estado de bem-estar feliz, mas também sua expressão, o regozijo. A raiz gîl (substantivo e verbo) é usada com menos frequência e inclui a noção de exultação (Is 35.2); enquanto a palavra hebraica hêdâd refere-se a sons de alegria como aclamação e grito de alegria (Jr 48.33; cf. Ez 7.7).

O vocabulário grego do NT é mais limitado. Os substantivos comuns são chara, e agalliasis, no sentido de intensa alegria. Esse último é muitas vezes usado na Septuaginta e corresponde a simhâ. O verbo euphrainô, é raramente usado no NT; encontra-se principalmente em Lucas. Está ligada a alegria festiva e saudação alegre.

No AT

A alegria é característica da vida de fé; delimita tanto a comunidade quanto o indivíduo. A alegria é uma qualidade, não simplesmente uma emoção, da qual Deus é tanto o objeto (Sl 16.11; Fp 4.4) quanto o doador (Rm 15.13).

O AT reconhece alegrias pessoais como parte da existência humana.

·    Aniversários deveriam ser celebrados com alegria (cf.em contraste Jo 3.1-7);

·    As pessoas, jovens ou idosas, devem se alegrar com sua idade (Ec 11.8-9);

·    Um filho sábio alegrará seus pais (Pv 23.24,25);

·    Um jovem casal poderá expressar amor um ao outro com alegria (Pv 5.18,19);

·    O “homem se alegra em dar resposta adequada” (Pv 15.23);

·    Os Salmos declaram que podemos regozijar em Deus individualmente por causa do perdão (Sl 51.12), favor (Sl 4.7,8) e comunhão com Deus (Sl 63.4,5).

No AT, a ênfase mais óbvia está no regozijo nacional e cultual. Os israelitas compartilham com todos um senso de júbilo comunitário nos tempos de festividades (Ed 6.22), dedicação (2Cr 7.10), coroação (1Sm 11.15) e vitória militar (Jz 16.23). Mas o regozijo distinto de Israel se expressa na adoração comunitária e cultual do Deus de Israel centralizada no templo (cf. Sl 42.4; 84.1,2). O povo de Deus se alegra no Senhor, seu Deus, não apenas porque Ele é o rei de toda a terra (Sl 98.4-6), mas também porque ele vive no meio de seus escolhidos em Sião (Sl 132.8-16).

Alegria e felicidade são inspiradas não apenas pela atividade de Deus na nação de Israel, mas também pelo próprio ser de Deus. O fiel regozija-se na justiça de Javé (Sl 1-4), em sua benignidade (Sl 90.14; Jr 31.2-4), fidelidade (Sl 33.1-4), bondade (Ex 18.9); em seu poder (Sl 47.1-7); cf. Dn 2.20-23); em sua palavra e ordenanças (Sl 119.74, 111, 112); e em sua cura plena (Is 12.2-6).

Messiânica

Quando Deus abençoa seu povo, ele regozija; e tanto o louvor quanto a ação de graças estão intimamente ligados à alegria do povo. Contudo, a alegria de Israel anuncia o futuro, da mesma maneira que se expressa em atitudes individuais e coletivas de grato regozijo pela bondade salvadora de Deus no passado e no presente. A literatura profética do AT é enfaticamente marcada por uma esperança escatológica que olha para além do sofrimento presente, em particular no exílio, para a alegria de uma bênção e plenitude de vida na era messiânica (Is 26.19; Jr 31.12,13; Zc 9.9). Nesse momento, toda a criação une-se ao povo de Deus em regozijo. Os céus, a terra, os montes e as ilhas são chamados para participarem do júbilo da nova era, ou é dito que de fato participam (Sl 19.4,5; 89.5-18; Is 35.1-10; 42.5-16). Além disso, o próprio Deus se regozija e se alegra com seu povo (Is 65.19; Jr 33.9).

No NT

Os autores do NT afirmam com clareza que as expectativas messiânicas de Israel são cumpridas alegremente em Jesus, o Cristo.

A alegria é evidente nos Evangelhos mesmo antes do advento de Jesus. O anjo promete a Zacarias no nascimento de seu filho que haveria tempo de alegria, prazer e regozijo (Lc 1.14); e o bebê na barriga de Isabel expressa essa alegria ativamente (Lc 1.44); Maria se regozija em seu Salvador porque lhe foi permitido participar dos propósitos da salvação (Lc 1.47).

A alegria envolve o próprio nascimento de Jesus.  O regozijo de Maria é compartilhado pelos pastores, em nome de todo o povo (Lc 2.10; cf. 2.14), e pelos magos, que “encheram-se de júbilo” (Mt 2.10). João Batista declara que a vinda de Jesus faria que a alegria se cumprisse (Jo 3.29).

O ministério de Jesus, de acordo com os evangelistas, é marcado por júbilo. Há referências nas parábolas às festas comunitárias e ao prazer do comer e beber (Lc 12.19; 16.19). o próprio Jesus compartilha desse prazer comendo até com os marginalizados (Mc 2.15-17); mas ele deixa claro que a alegria vinda de Deus é mais importante. Essa ideia é mais proeminente no evangelho de Lucas. Por exemplo, os Setenta que retornam da missão com alegria porque os poderes demoníacos a eles se sujeitavam em nome do Senhor; mas Jesus lhes diz para se alegrarem por causa da redenção deles (Lc 10.17,20).

A experiência pessoal de alegria em Cristo da qual os evangelistas testificam recebe uma expressão teológica mais significativa em outras partes do NT, onde está relacionada com a vida da igreja, a comunidade de fé.

Em Atos, a alegria marca a vida da igreja primitiva, na qual o governo de Deus é revelado. O motivo do regozijo da igreja é a morte e ressurreição de Jesus (At 2.26, citando Sl 16.9,10). A alegria acompanha a celebração eucarística (At 2.46), os milagres realizados no nome de Cristo (8.8), o dom do Espírito Santo aos discípulos (13.52), e a conversão dos gentios (15.3) e do carcereiro de Filipos com sua família (At 16.34).

No evangelho de João, o uso da expressão “plena alegria” é característico. O momento escatológico da salvação chegou (Jo 3.29), e Jesus já está experimentando alegria perfeita porque ele está cumprindo a vontade e obra do Pai em plena comunhão com Ele (4.34; 14.20). Essa alegria realizada será concedida a seus seguidores na igreja, após a ressurreição e por meio do Espírito- Paracleto (15.11; 16.24).

Paulo vê a alegria como uma dádiva dinâmica do Espírito Santo (Gl 5.22,25). O crescimento da fé nos membros do corpo de Cristo, principalmente os que Paulo conduziu a Cristo, lhe dá motivos de se alegrar (Rm 16.19; 2Co 7.15,16; cf. 2Jo 4); na verdade, esses cristãos são chamados de “nossa alegria” (1Ts 2.20). Mas a alegria não é estática; Paulo convoca a igreja a praticar diariamente a alegria do conhecimento de Cristo e sua salvação (Fp 3.1; 4.4; cf. 1Pe 1.6,8).

Paulo reconhece que o sofrimento produz alegria. Essa possibilidade é anunciada no AT, mas o regozijo dos cristãos na adversidade se distingue por ser realizado por meio do sofrimento e justificação do próprio Jesus, e na verdade esse regozijo reflete o sofrimento (Cl 1.24; 2Co 6.10; Hb 12.2). Há alegria no sofrimento porque ele leva à recompensa celestial (Mt 5.12); produz caráter (Rm 5.3,4) e perseverança (Tg 1.2,3); e, acima de tudo, é em favor de Cristo Jesus e seu corpo (At 5.41; Fp 2.17,18). O paradoxo da fé cristã é que a tristeza pode ser transformada em alegria pelo Espírito (2Co 7.4).

Escatológica

Apesar da alegria em Cristo ser experimentada na igreja na terra, às vezes em meio à adversidade, a alegria absoluta dos cristãos não pertence a este mundo. No discurso de despedida joanino, Jesus assegura aos discípulos que a tristeza deles após sua partida será transformada em júbilo (Jo 16.16,20), como acontece com a dor de parto (Jo 16.21). Essa alegria duradoura é característica do Reino de Deus, que também “não é deste mundo” (18.36). Nos termos paulinos, o Reino de Deus trata de “justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 14.17).

A alegria cristã também prenuncia o fim da História. No futuro, haverá regozijo porque o mal e a oposição contra Deus terão sido finalmente vencidos (Ap 12.7-12); os planos de Deus para a salvação terão sido cumpridos no juízo (Ap 19.1-8); e a igreja será apresentada sem culpa à presença da glória de Deus com regozijo (Jd 24,25).