Andai no Senhor!
Colossenses 2.6-7
“Ora, como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele, nele radicados, e edificados e confirmados na fé, tal como fostes instruídos, crescendo em ações de graças”.
Somos advertidos pelas Escrituras a andarmos de forma prudente, sábia e não como néscios. Muitos andam de um lado para o outro sendo guiados por todos os ventos de doutrina que aparece.
Na primeira parte deste capítulo (v.1-5) nós não temos nenhuma palavra de exortação, nenhum mandamento ou pedido de Paulo à igreja de Colossos, a sua ênfase era de fazer com que os crentes dessa igreja soubessem a grande luta que o apóstolo vinha mantendo por eles e pelos mal protegidos cristãos da Ásia. Essa sua luta consistia em constante oração para que o Senhor confortasse o coração deles, os vinculasse juntamente em amor e eles pudessem ter a riqueza da forte convicção do entendimento para que não fossem enganados por raciocínios falazes. Percebemos, então, que a ênfase está no esforço do apóstolo e em como a oração era algo central no seu ministério.
Apesar dessas ameaças que se levantavam contra a igreja, há motivo de alegria, pois a mesma se encontrava em boa ordem e firme na fé em Cristo. Paulo declara essa sua alegria e imediatamente exorta à igreja a permanecer deste modo firme no Senhor.
Paulo muda o tom de voz e dá uma ordem simples e clara: “Andai nele”!
Em relação a esta caminhada cristã é necessário perceber que:
1. É uma ordem dada àqueles que já receberam à Cristo – como recebestes Cristo Jesus;
2. É um apelo que desafia aqueles que receberam a Cristo a caminhar do mesmo modo que o receberam – o Senhor, como Senhor. O Dr.Shedd parafraseia essa ordem da seguinte maneira: “Portanto, visto que Jesus foi entregue a vós como Cristo e Senhor, continuais vivendo conforme esse fato de ele ser o vosso Senhor”.
3. É um apelo a caminhar em Cristo – andai nele. “A vereda, então, é Cristo Jesus, continuamente convidado a se assenhorear de todos os nossos atos, planos, pensamentos e ambições (cf. Rm 12.2). Essa figura do caminho nos lembra a afirmação de Jesus: Eu sou o caminho (Jo 14.6). No livro de Atos, os discípulos são o “povo do caminho” (At 22.4), símbolo dessa verdade: toso verdadeiro cristão é um peregrino (Mt 8.20) e estrangeiro (Hb 11.13) que caminha na direção de sua pátria celeste”[1]
Àqueles que andam em Cristo precisam estar:
1. Arraigados nele – figura da agricultura. Essa palavra está no particípio perfeito passivo, indicando uma experiência no passado que não mudará. O tempo perfeito do grego, é um tempo de características peculiares, que não encontra correspondência exata com a nossa língua. Expressa um estado atual que, geralmente, é resultado de um acontecimento do passado. A ideia que o texto dá é de uma árvore, que tendo sido enraizada, só fica mais firme à medida que o tempo passa e ela cresce, afirma Shedd (p.250). É algo que já aconteceu e não tem como voltar atrás.
2. Edificados nele – figura da engenharia. Sugere um prédio em construção. O comentarista Lightfoot traduz assim: “sendo edificados nele hora após hora”. Não foi, porém, um simples ato, mas um processo contínuo. É maravilhoso saber que Deus está agindo constantemente no processo de edificação da sua igreja. Ele está construindo este edifício para a Sua própria habitação (Ef 2.22).
3. Confirmados na fé – O andar em Cristo, a firmeza das raízes crescendo no evangelho, o processo de edificação, tudo deve confirmar a convicção do crente na fé. De acordo com MacArthur o sentido aqui é objetivo, referindo-se à verdade da doutrina cristã. A maturidade espiritual desenvolve-se a partir do fundamento da verdade bíblica como ensinada e registrada pelos apóstolos. A igreja está implantada, edificada em Cristo e fundamentada no Seu ensino, na sua Palavra.
Esse exercício de ensinar os crentes a andar em Cristo é algo constante! Os crentes já haviam sido ensinados, mas novamente o apóstolo ressalta a importância de andar no Senhor, radicados, edificados e confirmados na fé!
A vida de alguém que está em Cristo e anda em Cristo de modo firme só pode redundar em louvor e adoração a Deus por parte desse crente. Sua vida é marcada por um crescimento constante em ações de graças por pertencer a Cristo e desfrutar de todos os tesouros da sabedoria e do entendimento que só pode ser encontrado n’Ele.
Warren Wiersbe, sintetizando o texto estudado, vê seis figuras nos versículos 4 a 7: a figura de um exército (2.5), de um peregrino (2.6), de uma árvore (2.6), de um edifício (2.6), de uma escola (2.7) e de um rio (2.7).
[1] Epístolas da Prisão, Dr.Shedd, p. 250.Clique para editar este texto.
O esforço de Paulo para proteger a igreja de Cristo

Colossenses 2.1-5
“Gostaria, pois, que soubésseis quão grande luta venho mantendo por vós, pelos laodicenses e por quantos não me viram face a face;
para que o coração deles seja confortado e vinculado juntamente em amor, e eles tenham toda a riqueza da forte convicção do entendimento, para compreenderem plenamente o mistério de Deus, Cristo,
em quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos.
Assim digo para que ninguém vos engane com raciocínios falazes.
Pois, embora ausente quanto ao corpo, contudo, em espírito, estou convosco, alegrando-me e verificando a vossa boa ordem e a firmeza da vossa fé em Cristo”.
Crescimento espiritual não surge por acaso, ele sempre vem acompanhado de muita dedicação e esforço por parte do discípulo e do discipulador. Nosso texto fala claramente da luta do apóstolo Paulo para que a igreja de Colossos não fosse levada pelos “raciocínios falazes” de falsos mestres que procuravam disseminar suas heresias no meio da igreja.
Para evitar que o pior acontecesse à igreja, Paulo se esforçou, lutou para que os irmãos atingissem a maturidade cristã. A luta de Paulo foi uma luta:
1. Intensa – “quão grande luta”. A ideia aqui é de um grande esforço, a palavra vem da mesma raiz de “esforçar-se” de Cl 1.29. Paulo empreendeu um grande esforço para que a igreja atingisse essa maturidade. A palavra luta faz parte do vocabulário atlético e se refere ao esforço vigoroso de um corredor para vencer a corrida. O esforço de Paulo, contudo, não é realizado na carne, mas na energia e na força do Espírito Santo (Cl 1.29). Quem realiza a obra de Deus precisa do poder de Deus (Comentário de Hernandes Dias Lopes aos Colossenses, p. 118).
· Você tem esperado resultados favoráveis sem empreender esforço?
· Dizem que a insanidade está em esperar resultados diferentes fazendo as mesmas coisas. Você quer crescer na vida cristã mas não tem se esforçado para que isso aconteça? Você quer que seu filho, filha, cresça em maturidade cristã no meio desse mundo de raciocínios falazes? Como você tem se esforçado para conduzi-los nesse processo?
2. Constante – “venho mantendo”. Ele não foi um cara que lutou e parou, Paulo era alguém que não parava de lutar, de insistir, de acreditar, o amor faz isso! O amor investe e insiste, ele é constante. Quem ama o filho não desiste de investir no seu crescimento. Quem ama de fato a igreja esforça-se constantemente pelo bem dela. Um inimigo que precisa ser encarado é a preguiça, o preguiçoso nunca termina o que começa, ele caça, mas não é capaz de cozinhar o que caçou. A constância dá chance ao processo de crescimento, olha para o futuro e não para o presente. A força da constância é a esperança.
· Você luta constantemente por aquilo que você acredita?
· Você tem insistido no crescimento espiritual de outros? E no seu próprio?
· Você é mais inclinado a continuar o que começa ou a desistir pelo caminho?
3. Focada – “... por vós, pelos laodicenses e por quantos não me viram face a face”. Aquele que antes respirava ameaças e morte pela igreja, agora vive para o bem dela. Quando ele escreve aos filipenses é diz: “Porquanto, para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro... mas, por vossa causa, é mais necessário permanecer na carne. E, convencido disto, estou certo de que ficarei e permanecerei com todos vós, para o vosso progresso e gozo da fé” (Fp 1.21, 24,25). Ele vivia para Cristo servindo à sua igreja. Ele não amava apenas àquelas igrejas que foram implantadas por ele, mas amava a igreja porque ela pertence a Cristo. Paulo trabalhava intensamente, continuamente e de forma focada para apresentar todo homem perfeito em Cristo (Cl 1.28).
· Que lugar a igreja ocupa nos seus pensamentos e do seu tempo?
· Se a vida do novo crente dependesse da sua disposição em abençoar e ajuda-los no processo de crescimento na vida cristã, que tipos de discípulos nós teríamos?
· É natural ter um carinho e um amor pela igreja que congregamos, mas você tem amor pela igreja de Cristo como um todo? Você ora pela igreja do Senhor?
De acordo com o Dr.Shedd no seu comentário às epístolas da prisão[1] ele atribui a eficácia que operava eficientemente em Paulo como resultado de sua vida de oração (Tg 5.16). Segundo ele, a grande luta que Paulo mantinha pela igreja, era nesse caso, uma luta de oração. Na sua argumentação o Dr.Shedd diz que o apóstolo não queria que os cristãos de Colossos, Laodiceia pensassem que ele, por não conhece-los pessoalmente, deixava de lutar por eles de uma forma absorvente, concentrando todo o seu ser nessa “agonia”. À semelhança do conflito de Jesus no Getsêmani, o apóstolo se empenhou na batalha pela salvação das almas que Cristo comprara com o seu precioso sangue. Essa luta de joelhos, na prisão de Roma, vencia as forças satânicas que avançavam contra os mal protegidos cristãos da Ásia.
Mas o que Paulo queria alcançar com essa grande luta, grande empenho de oração em favor dos crentes?
1) Que eles fossem confortados ou encorajados (2.2) – A palavra ‘confortado’ vem do grego “parakaleo”, que tem o sentido de exortar, encorajar, animar. Corações desanimados geram um pessimismo na igreja. “Encorajar as pessoas é dar a elas um novo coração”[2]. Dr.Shedd (p.247) diz que a depressão espiritual não deixa de ser o campo mais propício para o inimigo semear o joio doutrinário, para não dizer o da falta de amor e a desunião. O pedido de que Deus os encoraje condiz com a promessa do Pai (Jo 14. 16ss, 26.15): o Espírito Santo, o Consolador. Este, sim, atuando em resposta às orações, conforta os corações dos santos.
2) Que eles fossem vinculados pelo amor (2.2) – Além do encorajamento para os seus corações, Paulo pedia que os crentes fossem estreitamente ligados pelos vínculos do amor. Esta mesma palavra, vinculados, é empregada em 2.9 para descrever a maneira como funcionam juntas e ligamentos do nosso corpo, ilustrando assim as relações dinâmicas e edificantes em toda a igreja. Hernandes Dias Lopes (p.119) diz que o amor é o oxigênio da Igreja. Quando morre o amor a comunidade entra em colapso. Quando o povo de Deus se une em amor, pode resultar em encorajamento e firmeza contra o erro e, sobretudo, orientação para a plena riqueza da convicção trazida pelo entendimento (2.2), que é o terceiro objetivo de Paulo em sua oração.
3) Que eles tivessem a riqueza da forte convicção do entendimento (2.2) – O discernimento espiritual, seguindo Lopes (p.119) é fundamental à igreja para que esta não siga os ventos de doutrina e nem seja vulnerável às sutilezas dos falsos mestres. O erro doutrinário, conforme afirma Dr.Shedd, tem livre acesso à mente que não tem certeza (gr. Pleroforia) daquilo em que crê, de quem é realmente o Senhor Jesus Cristo. Ele é o conteúdo do segredo de Deus. E a humanidade tateia em busca de solução definitiva da conquista do pecado e do sofrimento, até encontra-la em Cristo (cf. At 17.27), pois é nele e na sua obra redentora que se encontra a salvação.
A respeito de Cristo como o mistério nós temos cinco aspectos apresentados em Colossenses:
a. Cristo como o mistério oculto (1.26a) – oculto no AT e que continua oculto para muitos por causa da cegueira espiritual e comodismo da igreja.
b. Cristo o mistério manifesto (1.26b) – se manifestou aos seus santos. Só os salvos tem uma percepção clara de quem é Jesus e o significado do Seu sacrifício na cruz e acontece por revelação do Espírito Santo.
c. Cristo é o mistério que habita no crente (1.27) – Cristo em vós a esperança da glória.
d. Cristo sendo proclamado como o mistério (1.28) – “o qual nós anunciamos, admoestando a todo homem e ensinando a todo homem em toda sabedoria, para que apresentemos todo homem perfeito em Cristo”.
e. Cristo é o mistério que pode ser plenamente conhecido (2.2,3). Em vez de nos encharcarmos com os devaneios do conhecimento esotérico, devemos dedicar-nos ao pleno conhecimento de Cristo, mediante a Palavra.
Em Cristo se encontra a mina inesgotável de todos os valores da verdadeira sabedoria e conhecimento, mas como afirma o Dr.Shedd (p.247) esta sabedoria não está na superfície, nem este conhecimento é como as águas do mar para o marinheiro: ambos estão ocultos em Cristo. É preciso buscar, cavar nessa mina, cujos brilhantes só se desenterram com oração, leitura da Palavra, meditação e espera no Espírito Santo. Em 1Co 1 a 4, Paulo desenvolve o tema da sabedoria, ressaltando esta verdade: a espiritualidade real só se encontra em Cristo, e este crucificado.
Os tesouros da sabedoria e do entendimento levam o crente a uma verdadeira penetração no mistério de Deus, isto é, uma integração com os seus propósitos, revelado na vinda de Jesus Cristo ao mundo.
Quem buscar a Cristo e em Cristo a sabedoria e procurar aprender dEle, encontrará os verdadeiros tesouros da sabedoria e do entendimento. Como Shedd afirma (p. 248), este seria o galardão prometido a quem se restringir a procurar de fato o ponto de vista divino em sua única fonte, o tão grande Salvador.
Por que Paulo se dedicou de forma intensa, constante e focada? Para que os crentes fossem encorajados, vinculados pelo amor, e tivessem a riqueza da forte convicção do entendimento para que pudessem compreender plenamente o mistério de Deus, Cristo, em quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos. Mas por que ele queria isso? Para que eles não fossem enganados pelos raciocínios falazes. Paulo tem preocupação com a saúde espiritual, pois conhece as armas que Satanás utiliza para tirar o foco dos crentes do verdadeiro tesouro da sabedoria, Cristo. Se não tivermos critérios bíblicos, como discerniremos a verdade no meio de tantas palavras persuasivas? (Veja At 20.30).
Hendriksen diz que os colossenses não necessitavam nem deviam buscar outra fonte de felicidade ou santidade fora de Cristo. Jactam-se os falsos mestres de sua sabedoria e conhecimento? Gloriam-se nos anjos? Nem homens, nem anjos, nem outra criatura tem algo a oferecer que não possa ser encontrado em Cristo em um grau infinitamente mais elevado e em uma essência incomparavelmente superior.
Apesar de nunca ter visto a igreja de Colossos, Paulo estava presente em espírito (pode ser seu próprio espírito – imaginando; pode ser pelo Espírito Santo – revelando). Isto lhe dava ânimo, pois observava com muita alegria, duas características da igreja:
· Sua boa ordem (gr. Taxin, fileiras ordeiras de um exército) e,
· Sua firmeza (gr. Stereoma, “linha de frente firme”, “falange pronta para receber o impacto do inimigo, sem recuar”) na fé, posta no Senhor.
A Palavra de Deus nos ensina nesse pequeno parágrafo os valores do esforço e a centralidade que a oração deve ter nas nossas vidas. Tudo isso para proteger a igreja pela qual Jesus Cristo morreu e comprou com seu próprio sangue.
Mais uma vez pergunto a você: Tens se esforçado pelo bem da igreja, dos seus filhos, dos seus discípulos? Que lugar a oração ocupa na sua vida? Você acredita realmente que Deus age por meio da oração? Paulo acreditava e se esforçava grandemente em oração em favor da igreja. Ore!
[1] Shedd, Russel P. Uma análise de Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom / Russel Shedd & Dewey M. Mulholland. – São Paulo: Vida Nova, 2005. Pág. 246.
[2] Lopes, p.119.