Introdução ao Evangelho de Mateus
Autor: Mateus ou Levi, cobrador de impostos ou publicano chamado por Jesus para ser um dos seus doze discípulos (Mt 9.9-13; 10.3). Sua autoria pode ser comprovada tanto pelas evidências externas quanto pelas evidências internas.
Pela evidência externa nós temos o testemunho de Eusébio (325 d.C.) citando Papias (100 d.C.), dizendo que Mateus compôs em aramaico os oráculos do Senhor e que mais tarde eles foram traduzidos para o grego por cada pessoa conforme era capaz[1]. Além disso, vários primeiros pais da igreja citam Mateus como o autor, entre eles Pseudo-Barnabé, Clemente de Roma, Policarpo, e Justino Mártir[2].
A evidência interna mostra como o estilo e os detalhes do evangelho apontam para uma pessoa das qualificações e profissão de Mateus.
1) O evangelho fala mais de dinheiro do que qualquer outro, o que se poderia esperar de alguém que fora publicano (cobrador de impostos).
2) O fato do autor usar o termo ofensivo “publicano” ou coletor de “impostos” para descrever Mateus, ao passo que Marcos e Lucas evitam o termo;
3) O autor refere-se à festa oferecida por Mateus a Jesus um “jantar” (9.9-10), ao passo que Lucas a chama de “um grande banquete” (Lc 5.29);
4) Ensinos que exaltavam os publicanos foram aqui omitidos (cf. Lc 18.9-14; 19-1-10).
Data e Local de composição: Não se sabe ao certo a data e o local, mas provavelmente foi escrito depois da primeira dispersão dos cristãos de Jerusalém, pois até este determinado momento os cristãos tinham a presença dos apóstolos que poderiam responder às suas perguntas. Também é provável que tenha sido escrito antes da destruição de Jerusalém em 70 d.C., tendo em vista a predição de Jesus da destruição de Jerusalém (Mt 24.1-28). O Dr. Carlos Osvaldo C.Pinto (p.34) acredita que o evangelho deve ter sido escrito por volta de 50 d.C.
Em relação ao local de composição, fala-se que Antioquia da Síria é o suposto lugar onde o evangelho foi escrito. A primeira menção ao Evangelho de Mateus veio de Inácio, então bispo de Antioquia, mas o fato é que não dá para determinar com precisão onde foi escrito o livro.
Destinatários: Como toda a Palavra de Deus é útil para a edificação e crescimento da sua igreja, o Evangelho de Mateus foi escrito para toda a igreja espalhada pela terra, mas foi primeiramente dirigida a uma igreja que na sua essência era formada por judeus. Chega-se a essa conclusão pelos seguintes fatos:
· Existem muitas alusões ao Antigo Testamento – cerca de sessenta.
· Existem ausências de explicações sobre expressões e costumes judaicos;
· O Livro começa com uma ênfase muito grande no fato de Jesus ser descendente de Abraão e Davi, mostrando sua linhagem messiânica.
Propósito do Livro: Ele é duplo: didático e apologético. “Eventos e ensinos selecionados do ministério público e particular de Jesus foram registrados para provar a uma audiência judaica que Jesus de Nazaré era o Messias prometido de Israel, e para esclarecer o programa divino para o Reino nesta presente era, à luz da ultrajante rejeição do Rei-Messias por Israel”[3]
Merrill Tenney (p.169-171) enfatiza alguns aspectos especiais do evangelho de Mateus. Ele diz que:
1. Mateus é o evangelho do discurso.
Pregação de João 3.1-12
Sermão do Monte 5.1-7.29
Comissão 10.1-42
Parábolas 13.1-52
Sentido do Perdão 18.1-35
Denúncia e Predição 23.1-25.46
Grande Comissão (28.16-20)
2. Mateus é o evangelho da igreja
A palavra igreja só ocorre no evangelho do Mateus (16.18; 18.17). Jesus tinha uma visão clara sobre a igreja. Para Tenney, o fato de que essas duas expressões do Senhor fazem parte de Mateus pode indicar que esse evangelho foi escrito para uma igreja nova e em luta, com necessidade de estímulo e disciplina. Essas passagens enfatizam tanto a autoridade da igreja como a ideia de corpo como um todo.
O contexto de 18.17 inclui um tom pastoral, ao enfatizar a preocupação de um membro que se desvia e o membro que errou.
3. Mateus é o evangelho do Rei
Mateus enfatiza a existência do reino e a realeza de Cristo. A genealogia no capítulo 1 enfatiza a linhagem real de Judá. A revolta de Herodes, a entrada triunfal em Jerusalém, o discurso de Jesus predizendo que se sentaria no “seu trono na glória celestial” (25.31) e a inscrição na cruz colocada por Pilatos: “Este é Jesus o Rei dos Judeus” (27.37), demonstra claramente o propósito de Mateus de mostrar Jesus como Rei. O autor do evangelho faz nove referências a Jesus como “filho de Davi”. Como Davi estabeleceu Jerusalém como sua capital, assim lemos em Mateus, e apenas nesse evangelho, a descrição de Jerusalém como “a cidade do grande rei” (5.35) e a “cidade santa” (27.53).
[1] Eusébio, Historia Ecclesiae III. Xxxix. 16.
[2] Pinto, p.33.
[3] Pinto, p.37